Tarifa de
transporte público em SP dificulta acesso à saúde, educação e ao lazer
EXCLUSIVA:
parece Parauapebas, uma cidade com mais de duzentos mil habitantes e que a
rigor não dispõe de transporte público, uma cooperativa é dona, sem licitação,
do deslocamento diário de milhares de pessoas e ninguém no poder público TEM
CORAGEM de enfrentar e domar a fera. Resultado, a tarifa de transporte público
mais cara do mundo. Rotas inadequadas, pessoas transitando a pés, caronas, tudo
precário. Precisa mudar.
- 20/09/2017 18h15
- São Paulo
Camila
Maciel – Repórter da Agência Brasil
Mais da metade dos paulistanos (52%) deixa de
visitar amigos ou familiares ou ir a parques, cinemas e outras
atividades de lazer por conta do preço do transporte público. Esse dado faz
parte da Pesquisa de Mobilidade Urbana, divulgada hoje (20) pela Rede Nossa São
Paulo e Projeto Cidade dos Sonhos.
O custo da tarifa também é empecilho
para 42% que precisam ir a consultas médicas e exames. O percentual dos que
deixam de ir à escola ou à universidade chega a 28%. Produzida pelo Ibope
Inteligência, a pesquisa está na 11ª edição e mostra a percepção da população
sobre o trânsito e o transporte público.
“Isso demonstra o drama que as
pessoas que vivem em São Paulo e têm de usar o transporte público,
principalmente aquelas que dependem dele. Deixar de fazer algo por conta do
preço é uma limitação do direito de ir e vir, que é um direito constitucional.
Isso é muito grave”, diz Flávio Siqueira, representante do Projeto Cidade dos
Sonhos.
Siqueira diz que este dado aponta
para a necessidade de serem revistos os critérios de qualidade e remuneração
das empresas de transporte público, sobretudo neste momento em que se elabora
uma nova licitação na capital paulista. “Vamos ter que discutir os custos do
transporte público. Isso é uma caixa-preta, inclusive para o poder público. Não
há muita transparência em relação aos custos que as empresas operadoras de
ônibus têm com o transporte. Isso está intimamente ligado com o preço da
tarifa. Se eles estiverem sobrevalorizados, vai impactar no preço da tarifa no
final da conta”.
Percepção
O nível de satisfação do
paulistano sobre serviços de locomoção piorou em todos os itens, interrompendo
uma tendência de melhora que era registrada desde 2008. O trânsito teve pior
nota, caindo de 3,2 para 2,7. A melhora na qualidade do transporte por ônibus,
por sua vez, é apontada como a principal medida a ser adotada pelo poder
público para a mobilidade.
“O que a gente consegue
diagnosticar é que as políticas públicas voltadas para mobilidade não tem tido
sucesso. Temos muita gente que usa o transporte público, que usa o ônibus, mas
não estão contentes. Por outro lado, a gente tem pessoas que andam de carro,
mais de 80% deles, que fariam a transição para o transporte público caso fosse
uma boa alternativa”, disse Siqueira.
O meio de transporte mais
frequente para a população é o ônibus (47%), seguido pelo carro (22%), metrô
(13%), a pé (8%), trem (4%), transporte particular (2%), ônibus fretado ou
intermunicipal (1%), motocicleta (1%) e bicicleta (1%). Em relação à frequência
do uso do ônibus, 39% utilizam cinco ou mais dias por semana. Os paulistanos
que afirmam nunca usar ônibus municipal somam 8%.
A pesquisa destaca que, apesar de
quase 50% dos entrevistados utilizarem o ônibus, a aprovação dos serviços é
baixa. Todos os itens avaliados ficaram abaixo da média, em uma escala de 1
(péssimo) a 10 (ótimo). As notas variaram de 2,6 (para segurança com relação a
assédio sexual) a 4,1 (tempo de duração da viagem). Como principais problemas,
os usuários destacaram: a lotação, o preço da tarifa, a segurança em relação a
furtos e roubos, a frequência, a segurança em relação ao assédio e
pontualidade.
A pesquisa mostra também que a
economia proporcionada pelo Bilhete Único, que permite a integração entre
viagens, é a principal razão de uso (23%) entre quem utiliza o ônibus pelo
menos uma vez por semana. Para 18%, a escolha pelo transporte público ocorre
por ser o melhor trajeto e 17% dizem que a justificativa é “não possuir carro”.
Os corredores de ônibus e as faixas exclusivas são apontadas como razão da
escolha pelo ônibus por 9% dos paulistanos.
Cobradores
Os entrevistados foram
consultados também sobre a proposta de retirar os cobradores de ônibus na
capital paulista. A medida foi rejeitada por 75% dos paulistanos. O governo
municipal anunciou em abril que espera implementar a mudança em até quatro
anos, realocando trabalhadores em outros setores.
Outra medida polêmica consultada
na pesquisa foi a privatização do Bilhete Único. Os que desaprovam somaram 61%
e os favoráveis, 31%. “Tivemos um número relevante de pessoas contrárias a
isso. Estamos dentro da discussão da desestatização e esse dado mostra que a
discussão transcende simplesmente aspectos ideológicos, de ser contra ou a favor,
as pessoas querem saber como isso se daria”, avaliou o representante do Projeto
Cidade dos Sonhos.
Outro lado
Por meio de nota, a São Paulo
Transporte S.A. (SPTrans) destacou que “trabalha ininterruptamente para
melhorar a qualidade do transporte público” e informou que, em São Paulo, o
índice de reclamações sobre o sistema municipal de transporte público caiu
33,8% entre janeiro e julho de 2017 na comparação com o mesmo período do ano
passado. Foram registradas 32.297 mensagens.
A autarquia destacou a
intensificação da fiscalização no sistema municipal de transporte, resultando
no aumento de 65,6% do número de multas entre janeiro e agosto na comparação
com igual período do ano passado. “Além das multas, a SPTrans cobra ações
corretivas das empresas nos problemas verificados durante as ações
fiscalizatórias”, diz a nota.
A SPTrans apontou ainda que está
investindo na qualificação dos motoristas ao criar programa específico de
treinamento junto às empresas e que a administração municipal está terminando o
edital para a nova licitação do sistema de transporte coletivo. “No documento
estarão incluídas atualizações para itens de segurança e conforto, bem como a
adoção de tecnologias e equipamentos que tornarão as viagens mais confortáveis,
como ar-condicionado nos ônibus.”
Sobre o custo da tarifa, informou
que a política tarifária “priorizou o congelamento da tarifa básica no
transporte”, mantendo o valor em R$ 3,80 e destacou que o Bilhete Único permite
o embarque em até quatro ônibus no período de três horas com o pagamento de uma
tarifa.
Edição: Fábio
Massalli
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