terça-feira, 10 de março de 2015

Valmir da Integral deposto ou porque Lulu Bergantim...



Porque Lulu Bergantim
não atravessou o Rubicon



Comparando...
Com este texto iniciei as analises do governo Valmir da Integral. Era o retrato e feitio de Lulu Bergantim. Não imagina que minhas criticas e observações acertaria tanto. Erros colossais, truculência, desrespeito a lei, falta de governança. Na verdade imaginava sim, conheço Valmir há mais de 20 anos. Double face e manipulador deparou finalmente com gente mais esperta, menos sensível e se ferrou, deu nisso ai: mais dois anos perdidos para nossa cidade. E num momento critico, em que cruzam os erros e faltas da VALE e nossos erros. Precisamos frear agora a loucura em exportar cada vez mais e mais minério, mesmo com seu preço aviltado. Precisamos repensar o destino da cidade. Um distrito industrial sustentável, um melhor aproveitamento da reserva florestal, uma gestão competente e de futuro juntamente com lideres capacitados e decididos e enfrentar uma nova realidade para nos. Valmir foi vencido pela inercia, pela incapacidade, pelos grupos de poder (leiam ANALISE DE PODER, publicado) e interesses mesquinhos que infestaram seu governo.  Diferentemente do amalucado Lulu Bergantim, o titubeante Valmir da Integral vai embora sem deixar saudades, derrotado pela sua própria inépcia e covardia. Sugado pelos diletos secretários mentirosos e de fachada e por seus entes próximos e queridos, com quem dividia  sua intimidade, ele se vai com seus  sonhos e com a possibilidade de redenção perdidos para sempre. Agora são novos tempos, precisamos deixar Lulu, ou Valmir retornar para seu ostracismo e a partir de então, cuidarmos para não permitir novos Lulus ou Valmir se tornarem tão poderosos. Podem nos deixar a ver navios...






Lulu Bergantim veio de longe, fez dois discursos, explicou por que não atravessou o Rubicon, coisa que ninguém entendeu, expediu dois socos na Tomada da Bastilha, o que também ninguém entendeu, entrou na política e foi eleito na ponta dos votos de Curralzinho Novo. No dia da posse, depois dos dobrados da Banda Carlos Gomes e dos versos atirados no rosto de Lulu Bergantim pela professora Andrelina Tupinambá, o novo prefeito de Curralzinho sacou do paletó na vista de todo mundo, arregaçou as mangas e disse:
— Já falaram, já comeram biscoitinhos de araruta e licor de jenipapo. Agora é trabalhar!

E sem mais aquela, atravessou a sala da posse, ganhou a porta e caiu de enxada nos matos que infestavam a Rua do Cais. O povo, de boca aberta, não lembrava em cem anos de ter acontecido um prefeito desse porte. Cajuca Viana, presidente da Câmara de Vereadores, para não ficar por baixo, pegou também no instrumento e foi concorrer com Lulu Bergantim nos trabalhos de limpeza. Com pouco mais, toda a cidade de Curralzinho estava no pau da enxada. Era um enxadar de possessos! Até a professora Andrelina Tupinambá, de óculos, entrou no serviço de faxina. E assim, de limpeza em limpeza, as ruas de Curralzinho ficaram novinhas em folha, saltando na ponta das pedras. E uma tarde, de brocha na mão, Lulu caiu em trabalho de caiação. Era assobiando "O teu-cabelo-não-nega, mulata, porque-és-mulata-na-cor" que o ilustre sujeito público comandava as brochas de sua jurisdição. Lambuzada de cal, Curralzinho pulava nos sapatos, branquinha mais que asa de anjo. E de melhoria em melhoria, a cidade foi andando na frente dos safanões de Lulu Bergantim. Às vezes, na sacada do casarão da prefeitura, Lulu ameaçava: 
 —Ou vai ou racha!

E uma noite, trepado no coreto da Praça das Acácias, gritou:
—Agora a gente vai fazer serviço de tatu!

O povo todo, uma picareta só, começou a esburacar ruas e becos de modo a deixar passar encanamento de água. Em um quarto de ano Curralzinho já gozava, como dizia cheio de vírgulas e crases o Sentinela Municipal do "salutar benefício do chamado precioso líquido". Por força de uma proposta de Cazuza Militão, dentista prático e grão-mestre da Loja Maçônica José Bonifácio, fizeram correr o pires da subscrição de modo a montar Lulu Bergantim em forma de estátua, na Praça das Acácias. E andava o bronze no meio do trabalho de fundição quando Lulu Bergantim, de repente, resolveu deixar o ofício de prefeito. Correu todo mundo com pedidos e apelações. O promotor público Belinho Santos fez discurso. E discurso fez, com a faixa de provedor-mor da Santa Casa no peito, o Major Penelão de Aguiar. E Lulu firme:
— Não abro mão! Vou embora para Ponte Nova. Já remeti telegrama avisativo de minha chegada. 

Em verdade Lulu Bergantim não foi por conta própria. Vieram buscar Lulu em viagem especial, uma vez que era fugido do Hospício Santa Isabel de Inhangapi de Lavras. Na despedida de Lulu Bergantim pingava tristeza dos olhos e dos telhados de Curralzinho Novo. E ao dobrar a última rua da cidade, estendeu o braço e afirmou:
— Por essas e por outras é que não atravessei o Rubicon! 

Lulu foi embora embarcado em nunca-mais. Sua estátua ficou no melhor pedestal da Praça das Acácias. Lulu em mangas de camisa, de enxada na mão. Para sempre, Lulu Bergantim.

José Cândido de Carvalho (1914 -1989), foi jornalista, contista e romancista. Vida premiada e espetacular, citado.

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