Porque Lulu Bergantim
não atravessou o Rubicon
não atravessou o Rubicon
Comparando...
Com este
texto iniciei as analises do governo Valmir da Integral. Era o retrato e feitio
de Lulu Bergantim. Não imagina que minhas criticas e observações acertaria
tanto. Erros colossais, truculência, desrespeito a lei, falta de governança. Na
verdade imaginava sim, conheço Valmir há mais de 20 anos. Double face e manipulador
deparou finalmente com gente mais esperta, menos sensível e se ferrou, deu
nisso ai: mais dois anos perdidos para nossa cidade. E num momento critico, em
que cruzam os erros e faltas da VALE e nossos erros. Precisamos frear agora a
loucura em exportar cada vez mais e mais minério, mesmo com seu preço aviltado.
Precisamos repensar o destino da cidade. Um distrito industrial sustentável, um
melhor aproveitamento da reserva florestal, uma gestão competente e de futuro
juntamente com lideres capacitados e decididos e enfrentar uma nova realidade
para nos. Valmir foi vencido pela inercia, pela incapacidade, pelos grupos de
poder (leiam ANALISE DE PODER, publicado) e interesses mesquinhos que infestaram
seu governo. Diferentemente do amalucado
Lulu Bergantim, o titubeante Valmir da Integral vai embora sem deixar saudades,
derrotado pela sua própria inépcia e covardia. Sugado pelos diletos secretários
mentirosos e de fachada e por seus entes próximos e queridos, com quem
dividia sua intimidade, ele se vai com
seus sonhos e com a possibilidade de redenção
perdidos para sempre. Agora são novos tempos, precisamos deixar Lulu, ou Valmir
retornar para seu ostracismo e a partir de então, cuidarmos para não permitir
novos Lulus ou Valmir se tornarem tão poderosos. Podem nos deixar a ver navios...
Lulu
Bergantim veio de longe, fez dois discursos, explicou por que não atravessou o
Rubicon, coisa que ninguém entendeu, expediu dois socos na Tomada da Bastilha,
o que também ninguém entendeu, entrou na política e foi eleito na ponta dos
votos de Curralzinho Novo. No dia da posse, depois dos dobrados da Banda Carlos
Gomes e dos versos atirados no rosto de Lulu Bergantim pela professora
Andrelina Tupinambá, o novo prefeito de Curralzinho sacou do paletó na vista de
todo mundo, arregaçou as mangas e disse:
— Já
falaram, já comeram biscoitinhos de araruta e licor de jenipapo. Agora é trabalhar!
E sem mais aquela, atravessou a sala da posse, ganhou a porta e caiu de enxada nos matos que infestavam a Rua do Cais. O povo, de boca aberta, não lembrava em cem anos de ter acontecido um prefeito desse porte. Cajuca Viana, presidente da Câmara de Vereadores, para não ficar por baixo, pegou também no instrumento e foi concorrer com Lulu Bergantim nos trabalhos de limpeza. Com pouco mais, toda a cidade de Curralzinho estava no pau da enxada. Era um enxadar de possessos! Até a professora Andrelina Tupinambá, de óculos, entrou no serviço de faxina. E assim, de limpeza em limpeza, as ruas de Curralzinho ficaram novinhas em folha, saltando na ponta das pedras. E uma tarde, de brocha na mão, Lulu caiu em trabalho de caiação. Era assobiando "O teu-cabelo-não-nega, mulata, porque-és-mulata-na-cor" que o ilustre sujeito público comandava as brochas de sua jurisdição. Lambuzada de cal, Curralzinho pulava nos sapatos, branquinha mais que asa de anjo. E de melhoria em melhoria, a cidade foi andando na frente dos safanões de Lulu Bergantim. Às vezes, na sacada do casarão da prefeitura, Lulu ameaçava:
E sem mais aquela, atravessou a sala da posse, ganhou a porta e caiu de enxada nos matos que infestavam a Rua do Cais. O povo, de boca aberta, não lembrava em cem anos de ter acontecido um prefeito desse porte. Cajuca Viana, presidente da Câmara de Vereadores, para não ficar por baixo, pegou também no instrumento e foi concorrer com Lulu Bergantim nos trabalhos de limpeza. Com pouco mais, toda a cidade de Curralzinho estava no pau da enxada. Era um enxadar de possessos! Até a professora Andrelina Tupinambá, de óculos, entrou no serviço de faxina. E assim, de limpeza em limpeza, as ruas de Curralzinho ficaram novinhas em folha, saltando na ponta das pedras. E uma tarde, de brocha na mão, Lulu caiu em trabalho de caiação. Era assobiando "O teu-cabelo-não-nega, mulata, porque-és-mulata-na-cor" que o ilustre sujeito público comandava as brochas de sua jurisdição. Lambuzada de cal, Curralzinho pulava nos sapatos, branquinha mais que asa de anjo. E de melhoria em melhoria, a cidade foi andando na frente dos safanões de Lulu Bergantim. Às vezes, na sacada do casarão da prefeitura, Lulu ameaçava:
—Ou vai ou
racha!
E uma
noite, trepado no coreto da Praça das Acácias, gritou:
—Agora a gente
vai fazer serviço de tatu!
O povo
todo, uma picareta só, começou a esburacar ruas e becos de modo a deixar passar
encanamento de água. Em um quarto de ano Curralzinho já gozava, como dizia
cheio de vírgulas e crases o Sentinela Municipal do "salutar benefício do
chamado precioso líquido". Por força de uma proposta de Cazuza Militão,
dentista prático e grão-mestre da Loja Maçônica José Bonifácio, fizeram correr
o pires da subscrição de modo a montar Lulu Bergantim em forma de estátua, na
Praça das Acácias. E andava o bronze no meio do trabalho de fundição quando
Lulu Bergantim, de repente, resolveu deixar o ofício de prefeito. Correu todo
mundo com pedidos e apelações. O promotor público Belinho Santos fez discurso.
E discurso fez, com a faixa de provedor-mor da Santa Casa no peito, o Major Penelão
de Aguiar. E Lulu firme:
— Não abro
mão! Vou embora para Ponte Nova. Já remeti telegrama avisativo de minha chegada.
Em
verdade Lulu Bergantim não foi por conta própria. Vieram buscar Lulu em viagem
especial, uma vez que era fugido do Hospício Santa Isabel de Inhangapi de
Lavras. Na despedida de Lulu Bergantim pingava tristeza dos olhos e dos
telhados de Curralzinho Novo. E ao dobrar a última rua da cidade, estendeu o braço
e afirmou:
— Por
essas e por outras é que não atravessei o Rubicon!
Lulu foi
embora embarcado em nunca-mais. Sua estátua ficou no melhor pedestal da Praça
das Acácias. Lulu em mangas de camisa, de enxada na mão. Para sempre, Lulu
Bergantim.
José Cândido de Carvalho (1914 -1989), foi jornalista, contista e romancista. Vida premiada e espetacular, citado.